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O tenente-coronel Mauro Cid, que já foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), declarou nesta segunda-feira (9) que a “preocupação principal” do ex-presidente “sempre foi” localizar fraudes nas urnas eletrônicas.
Cid fez essa afirmação durante seu depoimento no processo criminal envolvendo o que é denominado “núcleo crucial” da tentativa de golpe.
Como delator, o ex-ajudante de ordens foi o primeiro a prestar depoimento. Ele, o ex-presidente e outros seis acusados compunham o “núcleo crucial”, conforme indicado pela Procuradoria-Geral da República.
“A maior preocupação do presidente, na minha opinião, sempre foi descobrir uma fraude nas urnas, algo que sempre foi muito explícito na visão do presidente. Ele sempre procurou por fraude nas urnas”, afirmou Cid. O ex-ajudante fez essa declaração ao responder uma pergunta de seu advogado, Cezar Bittencourt, que questionou: “O presidente demonstrou interesse em se manter no poder mesmo após o resultado das urnas?”.
Pressão sobre o ministro da Defesa
Ainda nesta segunda-feira, Cid confirmou que o ex-presidente exerceu pressão, em 2022, sobre o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, a respeito de um relatório das Forças Armadas sobre a integridade do processo eletrônico de votação.
Quando questionado por Alexandre de Moraes sobre o relatório, o ex-ajudante de ordens confirmou que Bolsonaro desejava um documento “rigoroso” contra as urnas eletrônicas.
As Forças Armadas designaram representantes para compor uma comissão que fiscalizaria as eleições, criada pelo Tribunal Superior Eleitoral. O relatório apresentado pelos militares não indicou fraudes no sistema de votação.
Entretanto, o documento não descartou a possibilidade de erros, mesmo sem fornecer provas concretas sobre uma suposta vulnerabilidade do sistema. O TSE, a Polícia Federal e outras instituições asseguram a segurança do processo de votação eletrônico.
Cid confirmou que Paulo Sérgio, após as eleições, já possuía um relatório elaborado sobre as urnas e tinha agendada uma reunião no Tribunal Superior Eleitoral para apresentar suas conclusões, mas cancelou o compromisso devido à pressão de Jair Bolsonaro.
Estratégia para deslegitimar as eleições
De acordo com a PGR, a alteração na conclusão do relatório das Forças Armadas fez parte de uma estratégia mais ampla que visava deslegitimar o processo eleitoral e justificar uma possível intervenção militar.
Desde 2021, Bolsonaro sustentava a ideia de que as urnas eletrônicas eram inadequadas, mesmo sem apresentar qualquer evidência. Segundo a PGR, após sua derrota para Luiz Inácio Lula da Silva, ele buscou utilizar as Forças Armadas para gerar desconfiança em torno da eleição.
A versão original do relatório não identificava fraudes, o que desmantelava a narrativa defendida por Bolsonaro. Com a intervenção de Bolsonaro, o texto foi modificado para deixar em aberto a possibilidade de que fraudes pudessem ocorrer, embora não houvesse qualquer evidência concreta.
Este relatório alterado foi utilizado por apoiadores do ex-presidente com o intuito, de acordo com a PGR, de manter a base de apoio ativa, estimulando manifestações e acampamentos de natureza golpista nas proximidades dos quartéis.